Por: Leonardo Sakamoto
Lula não precisou citar nomes para desenhar Donald Trump como um vilão global na tribuna onde abriu hoje o discurso de chefes de Estado na Assembleia Geral da ONU. O presidente dos Estados Unidos pairou sobre a fala do petista não como um fantasma, mas um perigo real a ser combatido por outras nações.
Com declarações duras, o brasileiro falou diversas vezes sobre Trump, sem mencioná-lo. Soberania, sanções arbitrárias, intervenções, falsos profetas e oligarcas. Pintou um quadro sombrio de uma desordem internacional, onde o multilateralismo é atacado por quem se julga autossuficiente e que promove a violência e a intolerância, mas também cerceia a imprensa e gera aumento de preços.
O discurso também foi um convite a seguir o exemplo brasileiro, uma nação que, segundo ele, resistiu a ataques sem precedentes contra suas instituições e sua economia. Nesse contexto, citou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por atentar contra o Estado democrático de direito não como um ato de revanchismo, mas uma afirmação da força de nossas instituições. Destacou os falsos patriotas. Aliás, foi bastante aplaudido ao afirmar que o Brasil deu um recado ao mundo, de que “nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”.
Vendeu o Brasil como farol do combate à pobreza, ao ter saído do Mapa da Fome, segundo a própria ONU, e ao liderar uma aliança global para combatê-la. Defendeu a regulação das plataformas digitais. O tema é sensível, e tem levado a ameaças dos EUA contra o Brasil, a União Europeia, o Canadá e a Austrália.
Ao final, falou das perdas de Pepe Mujica e do papa Francisco. Disse que suas vidas se entrelaçaram às oito décadas da ONU. “O autoritarismo, a degradação ambiental e a desigualdade não são inexoráveis” e que “podemos vencer os falsos profetas e oligarcas”. Ou seja, podemos vencer Trump.
Em seu (longo) discurso, após Lula, Trump falou sobre as tarifas impostas ao mundo, mas não citou Bolsonaro. Revelou que ele e Lula se abraçaram nos bastidores, disse que gostou do brasileiro e que combinaram de se encontrar. O que indica que a tática do governo brasileiro foi correta, afinal Trump não trata bem quem baixa a cabeça